Escrevo hoje para lembrar ao meu eu de
amanhã, que hoje estou feliz.
A felicidade pode ser contada
em minutos ou dias, mas na média final, ela tem que ser a maior parte da vida.
Hoje acordei com uma enxaqueca
terrível. Cabeça pesada, sem fome, a sentir-me gorda e inchada. Recusei começar
sem um pequeno almoço leve e um brufen em circulação. Porque não há como uma
cabeça pensante e ativa. A minha, ao acordar, estava lenta. Muito lenta.
Relembrei os meus antigos dias, que incluia um pequeno-almoço leve, um bom
banho, maquilhagem leve, pentear o cabelo, estes 3 fios de cabelo que tenho a
fingir que é uma cabeleira farta, vestir-me como uma senhora de negócios
tímida, calçar uns sapatos rasos que as pernas não aguentam a alternativa
sensual, e pôr-me a caminho.
Hoje só posso imaginar este cenário,
mas tento acreditar. Até porque sei que voltará a ser assim e que irei voltar
ao stress e à loucura do trabalho. Vejo hoje que sou grata pelo teletrabalho.
Esta outrora palavra já conhecida, mas não tão reconhecida como hoje.
Acho que até fui feita para
este tipo de trabalho. A sério. Estou grata por ele e
sei que será a única coisa que terei saudades quando voltar à rua e fizer os meus primeiros 3000 quilómetros mensais de carro.
Hoje imagino que saí, que bebi
um cafezinho no caminho para o Alentejo onde tenho clientes. Que respirei o ar
puro dos campos verdejantes e que vi o sol.
Olhei pela janela e vi verde,
vi o azul do céu com as nuvens vagarosas. Vi pessoas lá muito a longe, mas
muito mais perto do que no quinto andar em plena cidade. Verifico que sou
mais bonita nesta paisagem.
Sou melhor pessoa quando falo
com o Sr. Joaquim da padaria. Sou amável com a velhinha que está sentada no
degrau. Sou melhor esposa enquanto preparo a massa que será o nosso pão de
amanhã. Não tenho dúvidas que é uma versão romanceada de mim, mas mesmo assim,
aquece-me o coração pensar que um dia podia ser. Basta decidir e fazer.
Assim, quando acordamos os dois
juntos na cama, quando tomamos o nosso café de borras, vamos fingir que o
desemprego no Alentejo não nos impede de ir. Que o coração nos pede sempre para
voltar lá porque é na imensidão da calma, que melhor me encontro e me vejo.
Porque mesmo no mais idílico
romance, existe sempre uma verdade escondida. A vontade de estar lá é maior que
o engano de saber que será difícil. E agora nesta realidade que vivemos, mais
me pergunto: porque não? Nada impede. Apenas tudo.
O voltar à vida real depende
apenas do que é o real para nós.
Hoje queria amor e uma cabana
no campo. Quiçá, uma cabana no campo com vista mar. Daquelas mesmo caras dos
hotéis com vista "tudo". Mas só contigo. Essa é a melhor parte da vida hoje. É
contigo. E isso não preciso de idealizar melhor. Já sonhei e o mundo cumpriu
por mim.
Hoje levanto-me e visto umas
leggings novas que tenho e uma t shirt bonita. Cá em casa, a temperatura é como
nos trópicos, é sempre primavera. Por isso, ponho-me o mais bonita possível
porque és tu que sais da porta do escritório da nossa casa de mais um dia de
trabalho. A única diferença é que não vens da rua. Porque o beijo à chegada, à
porta de casa, terás sempre.
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